Movimento negro não reconhece 13 de maio como data a ser celebrada

A presidenta do Conselho Municipal da Promoção da Igualdade Racial, Fiama dos Santos, afirma que o dia 20 de novembro é mais importante para o povo preto por celebrar a consciência negra

“O movimento negro entende que essa é uma data valorizada a partir de uma perspectiva branca em que uma princesa branca libertou os escravizados. A gente sabe que a história não é essa. Que essa libertação aconteceu não por bondade, mas por reflexo de uma luta da população negra. E também pela pressão política internacional que o país vinha sofrendo.” A análise é da presidenta do Conselho Municipal da Promoção da Igualdade Racial (CMPIR), Fiama dos Santos, sobre o dia 13 de maio, em que se lembra o Dia da Abolição da Escravatura. 

O Brasil foi o último país da América a abolir a escravidão, em 1888. Fiama dos Santos ressalta que o movimento negro buscou outra data para celebrar. Por isso, a importância da data de 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra, como símbolo da luta do povo preto. “É a data da morte de Zumbi [dos Palmares]. Essa data sim é muito mais importante de ser comemorada”, afirma a presidenta do CMPIR. “É interessante repensar o significado dessa data, 13 de maio. É a abolição de uma escravidão que, na verdade, não acabou”.”

Fiama dos Santos aponta que os indicadores sociais revelam a situação do negro em temas como pobreza e marginalidade. “Os indicadores sociais no Brasil ainda são racializados. Eles têm a cor preta. Por isso, precisamos pensar essa data de forma mais ampla. Pensar que país é esse. Que tipo de abolição aconteceu. Não houve nenhuma reparação”, afirma Fiama dos Santos. Para ela, é nesse contexto que se precisa fortalecer as políticas afirmativas como as cotas raciais para dar oportunidades aos negros. 

Para se ter uma ideia da condição do negro no Brasil, 133 anos após a abolição da escravidão, os negros têm menos anos estudados que os brancos e isso faz com que ganhem menos no mercado de trabalho. Em média, o salário do negro é 17% menor que o do branco. Conforme relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o negro tem três vezes mais chance de morrer de forma violenta. Os negros são cerca de 75% dos mortos pela polícia. Os negros morrem 40% mais que os brancos na pandemia de Covid-19.

Por isso, a vereadora Lenir de Assis (PT) afirma que é necessário combater o racismo, também estrutural, para que a vida pessoa negra seja respeitada. “Não bastam apenas leis para garantir o acesso aos direitos e serviços. É preciso que as leis sejam cumpridas e quem desrespeitar, seja punido de forma exemplar”, diz Lenir de Assis. “O Brasil tem uma dívida histórica com os negros. A política de reserva de vagas é um exemplo e necessária nesse contexto. Para que possamos promover a igualdade racial.”

NOTA: a foto que complementa este texto é de um protesto realizado hoje (dia 13) em Londrina, organizado pela Coalizão Negra por Direitos, que reuniu famílias em frente ao Gaeco - "13 de maio de luta: Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo". O ato teve como tema "pelo fim do genocídio negro e pelo controle social da atuação das polícias". O mote do protesto "Nem bala, nem fome e nem Covid. O Povo Negro quer Viver".

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